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sexta-feira, 3 de junho de 2011

A demagogia do bom de papo continua...

O “placar” da autoestima

* Waldyr Senna Batista 

A expressão “crise de autoestima”, utilizada aqui na semana passada, referia-se à administração pública municipal. Uma forma sutil de dizer que ela ainda não mostrou a que veio. Mas o prefeito Luiz Tadeu Leite, intencionalmente ou não, interpretou-a em sentido amplo, e, para contestá-la, alinhou exatos dez procedimentos, em andamento ou em preparação, para “provar” que Montes Claros nunca esteve tão motivada, com a autoestima nas alturas.

No seu decálogo, ele condena o que classifica como pessimismo do autor e alinha comentários aqui reproduzidos resumidamente: 1) a cidade é a terceira maior geradora de empregos em Minas Gerais, superando até Juiz de Fora e Contagem; 2) ela vai ganhar novo terminal de passageiros e cargas no aeroporto local; 3) poderá ser pré-selecionada como sub-sede da Copa de 2014; 4) grandes empresas estão se instalando na cidade, criando milhares de empregos; 5) o setor de construção civil atingiu o pleno emprego; 6) quatro novos condomínios de alto nível estão sendo implantados, além de doze novos conjuntos habitacionais; 7) hotel de rede internacional está em fase de conclusão e grandes lojas de departamento estão se instalando; 8) nos segmentos de educação superior e de saúde, Montes Claros tornou-se referência regional; 9) a Prefeitura está fazendo o dever de casa, promovendo o maior concurso público, fazendo crescer as receitas próprias do município e alavancando verbas federais; 10) a cidade é o segundo eixo rodoviário do País, tem a maior fábrica de insulina da América Latina e a maior fábrica de leite condensado do mundo. 

Tudo isso é verdade. Mas há um componente comum a todas as ações citadas: das dez, apenas uma ( o concurso público) é de iniciativa da Prefeitura. As demais são patrocinadas pelo setor privado, o que não chega a ser novidade, pois, historicamente, esse segmento em Montes Claros sempre esteve anos-luz à frente do setor público, o que explica a pujança da cidade. A grande movimentação dos dias atuais, portanto, não seria mérito da atual administração, se foi essa a intenção do prefeito ao fazer a sua apreciação. 
Ao contrário, há motivos para se temer que a superposição de tantos melhoramentos pressione a expansão demográfica e exija mais dos equipamentos urbanos. O sistema de trânsito, já à beira do colapso, sofrerá diretamente as consequências dessa suposta fase de crescimento não planejado.

Nessa área , a atual administração está colhendo derrota, pois não se conhece qualquer proposta consistente dela para solução do problema, que se agrava sempre. Ela tem se limitado à instalação de semáforos em pontos críticos, alguns com acerto, como nos casos dos aparelhos colocados nas proximidades do Parque de Exposição e do 10º Batalhão. Mas, semáforos são como aspirina para paciente em estado terminal.

O mais preocupante no sistema de trânsito da cidade é a não criação de espaços para acolher cerca de 700 carros novos postos a circular nas ruas estreitas todos os meses. São 8.400 por ano, que se somarão aos 150 mil já existentes, disputando espaços com motocicletas, bicicletas e até carroças. Todo esse emaranhado produz cenário pouco digno de cidade que almeja ser sub-sede da Copa do Mundo. 

As duas administrações anteriores ( Jairo e Athos) realizaram obras importantes nessa área, com implantação de avenidas e recuperação de ruas centrais. A atual se propunha a minorar o dramático congestionamento da avenida João XXIII, mas, ao que tudo indica, resumirá sua ação na aquisição de projeto mirabolante e inexequível. Há duas grandes obras paralisadas, as marginais do Pai João e do Bicano.

A letargia do poder público é que gera a crônica crise de autoestima predominante na cidade. A arrecadação da Prefeitura é insuficiente até para a manutenção da sua pesada estrutura, o que a faz dependente de recursos externos até para tapar buracos na pavimentação, cujo prazo de validade está vencido há muito tempo. 
E se a conversa derivar para a insegurança pública, com o “placar” de 42 execuções sumárias em cinco meses, não haverá autoestima que resista. 


* (Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a "Coluna do Secretário", n "O Jornal de M. Claros", publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)

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